Rizartrose
O que é Rizartrose?
Rizartrose é o nome dado pela comunidade médica para a artrose da base do polegar. Muito comum, assim como a artrose do joelho, a rizartrose chega a afetar 10% das mulheres de todo o mundo na 5ª a 6ª década de vida.
Vamos entender primeiro o que é a base do polegar. Nosso punho é formado pelos ossos do antebraço (rádio e ulna) e vários pequenos ossos, chamados ossos do carpo. Um deles merece nossa atenção especial para podermos entender essa doença. O nome desse osso é Trapézio, devido ao seu formato trapezoidal. Ele é o responsável por conectar o polegar ao punho. O trapxézio se articula com um dos ossos do polegar chamado metacarpo, como é possível observar na foto. Portanto, a articulação entre eles é chamada carpometacarpal do polegar.
Agora que você entendeu o que é a articulação carpometacarpal do polegar vamos entender qual a sua importância e sua relação com a rizartrose
A articulação carpometacarpal do polegar é muito importante, pois devido ao seu grande arco de movimento ela permite o polegar ser posicionado em muitas posições diferentes, incluindo a capacidade de se opor aos outros dedos. É por causa dessa articulação que o polegar é o dedo mais importante da mão, insubstituível e vital para tantas funções.
Infelizmente, devido a sua grande capacidade de movimento e grande uso no dia a dia é uma articulação mais propensa a ser acometida por artrose. De uma forma simples, artrose nada mais é que uma degeneração da cartilagem presente na articulação que acarreta dor e limitação ao paciente.
Sendo assim, quando há presença de degeneração da cartilagem na articulação carpometacarpal do polegar é feito o diagnóstico de rizartrose. No início a dor é leve e associada aos esforços, e com o passar do tempo vai ficando de maior intensidade e frequência.
E por que logo eu tenho essa tal de rizartrose?
Não fique triste esse problema é extremamente comum e você não está sozinho(a) ou é azarado(a). A rizartrose não tem uma causa única, ela ocorre devido a vários fatores:
- Predisposição genética: Algumas pessoas tem uma maior facilidade de desenvolver a doença por herança genética, assim como ter cabelos brancos, olhos verdes, pele negra e etc
- Sexo feminino: Mulheres são mais comumente afetadas que homens
- Idade: Com o passar dos anos a doença torna-se cada vez mais comum, devido ao uso do polegar ao longo da vida. Inclusive existem estudos mostrando que na época da morte mais da metade da população apresenta algum grau de rizartrose, mesmo que assintomática
Para ajudar no diagnóstico as radiografias são muito importantes.
As radiografias mostram o grau de severidade da artrose ajudando a guiar o tratamento. Além disso ajudam a diferenciar outras doenças que podem causar dor nessa região, principalmente a tendinite de De Quervain.
Observe diferenças entre um radiografia normal e uma radiografia com rizartrose.
Como tratar a rizartrose??
O tratamento sempre começa de forma conservadora, ou seja sem cirurgia. As alternativas são:
- Mudanças das atividades do dia-a-dia. Ou seja, evitar ou modificar aquelas atividades que causam maior desconforto
- Uso de órteses. Existem inúmeros modelos no mercado e formam o principal método de tratamento conservador.
- Infiltrações intra-articulares de corticóides. Em alguns pacientes, essas infiltrações podem dar um alívio bastante duradouro, e nesses casos serem benéficas.
- Fisioterapia. Várias técnicas fisioterápicas podem ser usadas para alívio dos sintomas.
Falando um pouco mais sobre as órteses…
Elas devem ser rígidas, preferencialmente não incluir o punho para restringir muito a função da mão, podem ser feitas sob medida, por impressão 3D ou compradas prontas nas lojas ortopédicas ou até mesmo na internet. O importante é imobilizar a articulação Carpometacarpal para dar alivio aos sintomas, e devem ser usadas durante as atividades.
Contudo, alguns pacientes não tem melhora satisfatória com essas medidas e são candidatos ao tratamento com cirurgia.
Vamos ver agora como é realizada a cirurgia para rizartrose.
Lembra do osso do carpo que comentamos aqui que merecia nossa atenção especial? Pois bem, esse osso é o trapézio. Existem diversas técnicas para realizar cirurgia para rizartrose, entretanto quase todas envolvem a retirada do trapézio, também chamada de trapezectomia. Mas não se assuste, é possível retirar esse osso sem grandes prejuízos para a função da mão. Com a retirada do trapézio, a dor melhora muito pois a articulação desgastada e dolorosa deixa de existir.
Você esta dizendo então que esse osso era completamente inútil?
Não é bem assim. Existe de fato lados negativos dessa cirurgia e por isso deve ser feita somente quando não ocorre melhora da dor pelos métodos conservadores. A principal delas é o encurtamento que ocorre com o polegar. Esse encurtamento não é visível quando você olha para uma mão que realizou essa cirurgia pois esse osso é pequeno, mas ele existe e causa uma pequena perda de força no polegar. Agora precisamos entender que essa perda de força ocorre quando comparamos com um polegar normal, muitas vezes o paciente está com tanta dor no local que o polegar já está enfraquecido, e após a cirurgia existe ganho de função da mão.
Agora que você ja entendeu o princípio da cirurgia para rizartrose, vamos complicar um pouco mais. Como comentei, existem diversas técnicas para essa cirurgia, todas elas incluem a retirada do trapézio, que a etapa mais importante. Entretanto, a diferença está no que fazer após a retirada. Alguns cirurgiões realizam a retirada simples, sem mais nenhum procedimento. Outros preferem adicionar algum método de estabilização para tentar diminuir o encurtamento e consequentemente a perda de força. Isso pode ser feito através da colocação de um fio de aço (conhecido como fio de Kirchner) entre os metacarpos e deixado no local por 4 a 6 semanas, com a utilização de tendões como sustentação do polegar ou um fio sintético de alta resistência.
Uma técnica não é necessariamente superior a outra e depende da experiencia de cada cirurgião e o desejo do paciente, converse com seu cirurgião para se informar qual cirurgia será realizada!
Vamos ver como é o corte feito na pele para realizar esta cirurgia.
Quais são os principais riscos da cirurgia?
- Perda de força no polegar. Como já discutido essa é a principal desvantagem que pode ocorrer proveniente dessa cirurgia.
- Infecção. Esta complicação pode ocorrer em qualquer procedimento cirúrgico. Nesta cirurgia especificamente o risco é baixo, pois não são utilizados implantes, e não é uma cirurgia prolongada. Caso ocorra, a maioria das vezes é resolvida com antibióticos orais, sem necessidade de nova cirurgia.
- Lesão neurovascular. Durante a cirurgia ramos do nervo sensitivo radial passam bem próximos da incisão e podem ser lesados. Quando ocorre pode levar a dor no local da incisão. Nem sempre acontece por erro médico, algumas pessoas possuem variações da anatomia, ou outras doenças que alteram a localização das estruturas. Contudo, quando realizada cuidadosamente por profissional treinado na área, a ocorrência é incomum.
- Riscos da anestesia. Neste caso o risco é muito baixo devido ao pequeno porte da cirurgia. Normalmente a anestesia é local ou regional com uma sedação (remedio para relaxar e dormir), sem necessidade de intubação.
- Cicatriz dolorosa. Incidência em torno de 2 a 5%. Pode resolver com massagem cicatricial ou espontaneamente. Em alguns casos, pode-se desenvolver uma síndrome dolorosa complexa. Nesse caso, deve ser tratado com fisioterapia e medicações. É três vezes mais comum em mulheres.
- Recidiva. Retorno dos sintomas. Essa complicação não é frequente e pode se dar por outras causas de dor no local não reconhecidas antes da cirurgia. Pode ser necessária uma nova cirurgia em alguns casos
- Rigidez. Pode ocorrer após qualquer cirurgia ou trauma na mão, mas pode ser prevenido com exercicios pós-operatórios (ver Six-Pack).
E o pós operatório?
Nessa cirurgia pode ser necessária imobilização do punho e polegar por 6 semanas a depender da técnica realizada. Essa imobilização pode ser um gesso mantido por 6 semanas ou após uma semana ser trocado por uma órtese. A órtese pode ser removida para tomar banho e movimentar o punho.
Deve-se evitar o uso da mão nos primeiros dias, e mantê-la elevada na altura do coração. São utilizados medicamentos analgésicos de horário para evitar dor.
No 15˚ dia são retirados os pontos. Após as 6 semanas é interrompido o uso da imobilização, seja ela gesso ou órtese, e o paciente pode iniciar movimentos para fortalecimento e ganho de mobilidade. Usualmente com auxilio de fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional, preferencialmente especialista em terapia da mão. Após 12 semanas, é liberado o uso da mão sem restrições.
Lembrando que esta evolução ocorre para maioria dos pacientes, mas cada pessoa é diferente e essas orientações podem mudar de acordo com a evolução do caso. Portanto, siga sempre as orientações do seu médico.